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Pelo menos 11% das Cabeceiras do Pantanal precisam ser restauradas

Pelo menos 11% das Cabeceiras do Pantanal precisam ser restauradas
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As Cabeceiras do Pantanal, berço de cerca de 80% das águas que abastecem a planície pantaneira, possibilitando assim a conservação da biodiversidade e dos processos ecológicos e econômicos da região, necessitam de ações urgentes e coordenadas.

Estudos inéditos identificaram que é preciso intervir em pelo menos dois milhões de hectares – ou 11% da paisagem, tamanho equivalente a aproximadamente 2,5 vezes o município de Campo Grande – para atingir o melhor custo-benefício na implementação da restauração, potencializando o controle da erosão e a regulação hídrica, serviços ecossistêmicos fundamentais para aumentar a quantidade e melhorar a qualidade da água no território.

De acordo com as modelagens realizadas pelos pesquisadores, a melhoria da qualidade da água começou a ser percebida nos locais onde ao menos 2,5% da paisagem foi alvo de ações sustentáveis, como restauração nas margens de rios e nascentes, conservação do solo e adoção de melhores práticas agrícolas – como cercamento das nascentes, para evitar pisoteio do gado, e construção de curvas de nível para aumento da infiltração da água da chuva. Já o aumento do volume hídrico foi constatado após intervenção em, no mínimo, 20% da paisagem. Também foram analisadas porções da sub-bacia Jauru e da microbacia de Poconé, em Mato Grosso, e da sub-bacia do Miranda e da APA (Área de Preservação Ambiental) da bacia do córrego Guariroba, em Mato Grosso do Sul.

“A recuperação das Cabeceiras do Pantanal é urgente e vale o investimento por diversos motivos”, destaca Veronica Maioli, especialista em Conservação e Restauração do WWF-Brasil. “Além de ser fundamental para a melhoria do solo e para a manutenção dos recursos hídricos da região, é uma atividade que também gera trabalho e renda, favorece a segurança alimentar, a manutenção da cultura e do bem-estar da população local”, acrescenta.

As Cabeceiras do Pantanal, área que abrange 85 municípios e 16 sub-bacias hidrográficas de parte dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, têm cerca de 3 milhões de habitantes. São pessoas que dependem cotidianamente da água que nasce na região para viver. Apesar de o nome remeter ao bioma vizinho, 84% dessa paisagem estão no Cerrado, que já perdeu metade de sua cobertura original pressionado principalmente pela expansão não sustentável da agropecuária.

Os dados são preocupantes. Números de 2021 da plataforma MapBiomas apontam perda de cerca de 25% da área úmida nas Cabeceiras do Pantanal, assim como alteração de 58% do território devido à ação humana e o crescimento de 47% do cultivo de soja na região na última década.

São transformações significativas e que influenciam a crise climática, pois contribuem para intensificar a ocorrência de eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, e diminuem a resiliência na paisagem: ou seja, a capacidade de o ambiente lidar com os impactos negativos e se recuperar naturalmente.

Liderança técnica do “Água limpa para todos”, projeto desenvolvido pelo WWF-Brasil nas Cabeceiras do Pantanal em parceria com a Aegea, empresa líder no setor privado de saneamento no Brasil, Veronica salienta que o engajamento da população local é um dos eixos do trabalho que vem sendo realizado. “A proposta nesse primeiro ano de parceria com a Aegea foi produzir estudos que fornecessem subsídios técnicos robustos para direcionar ações práticas na paisagem, que é prioritária para o WWF-Brasil principalmente por conta do potencial hídrico e pelo status de degradação e desmatamento. Mas, para que a recuperação aconteça daqui em diante, precisamos do envolvimento e fortalecimento de todos os elos da cadeia da restauração”.

Poder público, empresas privadas, população, universidades, produtores rurais e organizações da sociedade civil precisam convergir. “Atuamos com base em conhecimento científico e fatos, orientados para resultados. Sabemos que, para alcançar transformações tão promissoras, precisamos agir juntos”, frisa Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil. “Por isso, buscamos parcerias com organizações que tenham compromisso com a agenda socioambiental e queiram cofinanciar as atividades de recuperação desse território tão estratégico para a sociedade”.

Técnicas ativas de restauração

Mas a recuperação das Cabeceiras não é tão simples, pois pelo menos 42% da paisagem tem baixo potencial de regeneração natural, o que torna essencial o uso de técnicas ativas de restauração e o envolvimento de todos os setores da sociedade. “Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, várias técnicas usando mudas e sementes têm sido empregadas nas Áreas de Proteção Permanentes na APA do córrego Guariroba, região produtora de água que abastece a cidade de Campo Grande”, afirma Veronica.

“Recuperar as nascentes é essencial para evitar o assoreamento dos rios e para que possam produzir mais água e água de qualidade”, diz Claudinei Menezes Pecois, presidente da ARCP (Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba), parceira do WWF-Brasil nesse projeto. “Sem esse trabalho de harmonização da natureza, a água não vai brotar, porque existe todo um ciclo para que a água exista, e isso passa pelas plantas, pelo cuidado com a natureza. Está tudo interligado.”

A engenheira agrônoma Elizene Vargas Borges, CEO da Ipê Agroambiental e professora da Faculdade de Agronomia UniBRAS, em Mato Grosso, reforça: “recuperar a mata ciliar é garantia não somente de mais água e menos evaporação, mas também de preservação do solo”. Das bacias hidrográficas presentes nas Cabeceiras do Pantanal, a de Jauru, onde Elizene atua em parceria com o WWF-Brasil, é a quinta com a maior extensão de APPs degradadas – cerca de 15.450 hectares. De acordo com o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Jauru, das 100 nascentes mapeadas ali pelo projeto, apenas cinco estão em processo de recuperação até agora.

“A Bacia do Jauru teve uma colonização focada na pecuária, com pisoteamento constante do solo e muita perda de água”, relata Elizene. “Somando-se isso a um solo frágil, arenoso e sem a proteção vegetal, tem-se também a perda dele, com assoreamento. Mas, hoje, os produtores rurais com os quais atuamos entendem que reflorestar é aumentar a água, e não o contrário. O sistema tem que ser sustentável até para produzir, com busca por equilíbrio, porque, sem água e sem solo, não tem como produzir nada.”

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Por Ecodebate

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Trajano Xavier

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