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Pequena, chifruda e ameaçada de extinção: uma nova espécie de árvore para Amazônia

Pequena, chifruda e ameaçada de extinção: uma nova espécie de árvore para Amazônia
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A espécie foi encontrada no escopo do projeto PELD-MAUA (Pesquisa Ecológica de Longa Duração sobre áreas úmidas da Amazônia), feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A descrição inédita da T. cornuta foi publicada nesta quarta-feira (16) na revista científica Acta Botanica Brasilica, da Sociedade Botânica do Brasil, e é assinada por três pesquisadores.

A pequena árvore é endêmica do Amazonas, ou seja, ocorre apenas no estado e em áreas de florestas de areia branca, conhecidas como campinaranas. Para sobreviver neste ambiente de solo arenoso pobre em nutrientes, a T. cornuta aproveita locais de lençol freático raso, onde a água forma pequenas poças durante a estação chuvosa, e se aproveita da baixa estatura para ficar na sombra de outras árvores e evitar a luz solar direta.

Suas raízes de sustentação, que não passam de 30 centímetros, quase imperceptíveis, são uma das características singulares que diferenciam a T. cornuta de outras espécies aparentadas e semelhantes. Os seus frutos também são bastante característicos, com uma proeminência em formato de chifre – o que lhe rendeu a alcunha dada pelos cientistas de “cornuta”. A árvore pode ser vista com flores de junho a outubro, e com frutos em março, abril e julho.

O fruto aberto da T. cornuta. Foto: Layon Oreste Demarchi

Até o momento, há apenas quatro localidades conhecidas de ocorrência da espécie, situadas na região de Manaus e nos municípios vizinhos de Presidente Figueiredo e São Sebastião do Uatumã. Duas delas estão dentro de unidades de conservação, ambas em Reservas do Desenvolvimento Sustentável (RDS), categoria de uso sustentável. Na RDS do Uatumã foram encontrados menos de 10 indivíduos, e na RDS do Tupé foram registrados 21 indivíduos.

“A espécie parece ser naturalmente rara, uma vez que, apesar de ocorrer no entorno de Manaus, uma das áreas mais amostradas da Amazônia, apenas alguns exemplares podem ser encontrados”, avaliam os pesquisadores no artigo. O gênero Tovomita compreende 53 espécies de plantas exclusivamente neotropicais, que ocorrem mais frequentemente em florestas úmidas.

Em uma primeira análise baseada no software GeoCAT (ferramenta geoespacial de avaliação de conservação), a Tovomita cornuta foi classificada como Em Perigo de extinção. Os pesquisadores alertam, entretanto, para ameaças que, de acordo com os critérios da IUCN, permitem classificar a espécie como Criticamente em Perigo, o estágio mais sério de ameaça antes da extinção.

“Entre os quatro locais conhecidos ocorrência da nova espécie proposta, duas estão fora de áreas protegidas e sob forte ameaça. A [praia da] Ponta Negra, distrito de Manaus, foi fortemente impactada pela expansão desordenada, associada ao desmatamento e perda de habitat. E Balbina, distrito do município de Presidente Figueiredo, foi acometida na década de 1980 pela construção da barragem de Balbina, que resultou em grandes áreas sendo inundadas para formar um reservatório para geração de energia e provavelmente afetou populações desta espécie”, descrevem os pesquisadores em trecho do artigo.

Os autores alertam ainda que mesmo nas duas localidades onde, em tese, está protegida pelas reservas, ameaças menores também podem ocorrer, como a supressão de áreas florestais para agricultura e pecuária de pequena escala.

As campinaranas, habitat exclusivo da T. cornuta, ocupam aproximadamente 7% da Amazônia e ainda são pouco estudadas. “Considerando o grande número estimado de plantas ainda não descritas, especialmente no bioma Amazônia, a única forma de trazer à luz esta biodiversidade negligenciada é através de coleções seguidas de estudos taxonômicos detalhados”, aponta o texto do artigo que destaca a importância de pesquisas ecológicas de longo prazo. “A descoberta de T. cornuta é um exemplo da relevância do trabalho de campo, e destaca como estudos ecológicos e taxonômicos podem interagir para revelar a biodiversidade amazônica”, completa.

Fonte: O Eco

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Trajano Xavier

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