Uma reportagem da edição do mês de julho da revista Pesquisa Fapesp apresentou um levantamento inédito realizado por uma equipe do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT) que identificou a presença de microplásticos em pulmões humanos.
Os resultados identificaram 33 partículas e 4 fibras de polímeros em 13 de 20 amostras de tecido pulmonar investigadas. As partículas mediam menos de 5,5 micrômetros (μm) e as fibras entre 8,12 e 16,8 μm. Um micrômetro equivale a 0,001 milímetro (mm).
O estudo foi conduzido com pessoas entre 48 a 94 anos, sendo 7 homens e 13 mulheres. Cerca de dois terços deles nunca havia fumado enquanto um terço era composto de ex-tabagistas que tinham abandonado o cigarro há pelo menos 15 anos. Todos moraram em média 34 anos no mesmo endereço na cidade de São Paulo.
As conclusões foram publicadas em 24 de maio no Journal of Hazardous Materials, uma revista científica holandesa que promove pesquisas a nível mundial e artigos nas áreas de Ciência Ambiental e Engenharia.
Os microplásticos de até cinco milímetros se originam da decomposição de utensílios plásticos maiores como sacolas, embalagens e garrafas. As fibras e polímeros soltam-se desses objetos no processo de fabricação ou quando são expostas à altas temperaturas.
Vários estudos já apontaram a presença de microplásticos em ambientes aquáticos, terrestres, aéreos e até mesmo em alguns alimentos.
A ingestão e respiração dessas partículas pelas pessoas também já era conhecida. A novidade da pesquisa conduzida pelo grupo de brasileiros é que ela aponta que essas partículas e fibras também podem ficar armazenadas nos pulmões.
O procedimento técnico adotado foi adaptado de um que já é utilizado na determinação de microplásticos em mexilhões. As espécies marinhas são alvo da maior parte dos estudos realizados sobre os impactos ambientais dos polímeros.
Os efeitos dos microplásticos na saúde humana ainda são pouco conhecidos. Nas espécies marinhas, ela causa danos físicos e parece reduzir ou tornar mais lenta a capacidade reprodutiva de algumas espécies.