Tubarão-branco recém-nascido foi avistado pela primeira vez na Natureza
Cria de tubarão-branco coberta pelo que os investigadores consideram ser uma camada fina de leite uterino. Por isso, acreditam que se trata de um recém-nascido, o primeiro a ser documentado em meio selvagem. Foto: Carlos Gauna
Foi nas águas marinhas ao largo da costa da cidade de Santa Bárbara, na Califórnia, que, pela primeira vez, foi avistado e documentado um tubarão-branco (Carcharodon carcharias) recém-nascido em meio selvagem.
Num artigo publicado na revista ‘Environmental Biology of Fishes’, o documentarista de vida selvagem Carlos Gauna, conhecido como The Malibu Artist, e o investigador Phillip Sternes, da Universidade da Califórnia – Riverside, dizem que, apesar de ser uma das espécies mais icónicas dos oceanos, pouco de sabe acerca da reprodução desses elasmobrânquios e sobre como as suas vidas começam.
A descoberta aconteceu quando a dupla, no dia 9 de julho do ano passado, viu no monitor uma imagem captada pela câmara do drone de Gauna que os deixou perplexos: um pequeno tubarão-branco totalmente branco. Esses animais são descritos, apesar do nome, como tendo o dorso cinzento e o ventre branco. Mas aquele pequeno tubarão, com cerca de um metro e meio de comprimento, era completamente alvo.
Cria de tubarão-branco coberta por uma camada esbranquiçada, que, como se vê na cauda, começava a perder-se.
Foto: Carlos Gauna
Intrigados, aumentaram as imagens recolhidas e desaceleraram a velocidade do vídeo. E viram que o tubarão parecia estar a libertar alguma coisa do seu corpo, como se estivesse a perder parte das suas escamas. Sternes acredita que o que viram foi o animal a perder uma camada de substância embrionária, algo que se conhece como ‘leite uterino’.
Os tubarões-brancos são animais ovovivíparos, ou seja, as crias desenvolvem-se em ovos no interior das progenitoras e nascem totalmente formadas e não ainda em ovos. No útero das progenitoras, alimentam-se de ovos não fertilizados e recebem nutrientes também desse tipo de leite, que, suspeitam os autores, será o que deu ao tubarão a sua coloração peculiar.
Depois de perder essa camada esbranquiçada, o animal apresentava as cores que se esperariam num indivíduo daquela espécie.
Gauna, com experiência de milhares de horas a filmar tubarões em todo o mundo, explica, em comunicado, que o local onde os tubarões-brancos dão à luz é ainda um grande mistério, e salienta que nunca alguém viu um recém-nascido vivo.
“Já houve casos de tubarões-brancos mortos encontrados dentro de progenitoras grávidas que morreram. Mas nada assim”, declara.
Os autores consideraram também uma segunda hipótese, que apontava que o que viram não era a perda de uma camada de leite uterino, mas sim algum problema de pele que o animal teria. Contudo, dizem que a primeira hipótese será mesmo a mais provável, até porque na área onde observaram o recém-nascido estavam presentes tubarões-brancos adultos de grandes dimensões, provavelmente fêmeas prenhes.
Dias antes do avistamento do recém-nascido, Gauna filmou, no mesmo local, “três grandes tubarões que pareciam prenhes”. No dia da descoberta, “um deles mergulhou e pouco tempo depois este tubarão totalmente branco apareceu”, afirma, sugerindo que o adulto que mergulhou será a progenitora da cria que emergiu momentos depois.
E, com base nas suas características morfológicas, Sternes considera que a cria que viram não teria mais do que algumas horas, “talvez um dia no máximo”.
Tudo conjugado, os autores do artigo acreditam que esse local, ao largo de Santa Bárbara, pode ser considerado um local de nascimento de tubarões-brancos, um berçário dos grandes predadores marinhos.
Ainda assim, reconhece que é preciso mais trabalho de investigação para confirmar que realmente aquelas águas são um local de reprodução de tubarões-brancos. Caso tal se venha a provar, então Sternes diz que será preciso conceder a essa área proteção legal.