Projeto divulga as primeiras gravações dos sons emitidos pelas tartarugas-da-amazônia – uma das espécies mais ameaçadas do Brasil
Um projeto da Associação da Conservação da Vida Silvestre – ou Wildlife Conservation Society (WSC) no Brasil – com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, busca contribuir com o desenvolvimento de estratégias de conservação para a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), uma das espécies mais ameaçadas do País e cuja população vem caindo significativamente nos últimos anos, principalmente devido ao tráfico e ao consumo ilegal.
Uma das frentes da iniciativa estuda o papel da comunicação acústica no comportamento de desova em massa e nascimento dos filhotes.
Os primeiros sons acabam de ser divulgados. Os sons “tipo 3f 2” e “tipo 3f 3” são sons de tartarugas adultas, enquanto o arquivo “tipo 6” representa o som de um filhote. A duração dos áudios é bem curta. Recomenda-se aumentar o volume da saída de som.
O comércio ilegal da espécie é estimulado pela alta demanda de sua carne e de seus ovos na região Norte. Nos meses de setembro e outubro, quando as tartarugas chegam aos rios tributários da bacia Amazônica para o período de desova, caçadores retiram os ovos da areia e capturam tartarugas para vender a mercados e restaurantes da região. Mais de 200 mil filhotes podem nascer em uma mesma noite, o que facilita a identificação e a captura das tartarugas.
Projeto de conservação
O projeto de conservação das tartarugas-da-amazônia usa microfones e hidrofones para captar os sons emitidos pelos animais, a principal forma de comunicação entre eles. Além da comunicação acústica entre os indivíduos adultos, os filhotes, ao entrarem na água, também chamam pelas mães por meio do som.
“Entender o padrão sonoro de como as tartarugas utilizam o som para sincronizar seus comportamentos da desova e nascimento em massa irá nos ajudar a prever quando isso está para ocorrer. Assim, conseguiremos intensificar as atividades de proteção e manejo nos períodos certos”, explica Camila Ferrara, ecóloga da WCS Brasil.
De acordo com o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz, projetos como esse são importantes para proteger a biodiversidade brasileira. “A partir do que aprendemos sobre as espécies, passamos a ter mais argumentos para mobilizar outros atores a favor da proteção. Com esses dados, podemos instigar a criação de políticas públicas a favor da espécie e colaborar com mais assertividade em ações de fiscalização”.
Maior espécie de água doce
As tartarugas-da-amazônia são a maior espécie de quelônio de águas doce da América do Sul, podendo medir um metro de comprimento e pesar até 75 quilos. São também uma das espécies de tartaruga com comportamento mais social do mundo, o que torna a comunicação sonora extremamente importante para a troca de informações nas atividades sociais do grupo dentro e fora da água.
Durante os meses de seca, as tartarugas-da-amazônia deixam a floresta alagada em busca das praias de desova. Cada tartaruga desova apenas uma vez no período reprodutivo e deposita cerca de 100 ovos. O período de incubação dura cerca de dois meses e o sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação. Após o nascimento, filhotes e adultos migram para a floresta alagada em busca de refúgio e alimentação.
Fonte: CicloVivo