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O que é a restauração de ecossistemas: exemplos de resiliência da biodiversidade

O que é a restauração de ecossistemas: exemplos de resiliência da biodiversidade
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A região da América Latina e do Caribe é particularmente rica em termos de biodiversidade, como indica o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Isso porque nesta área do planeta estão localizados sete dos 17 ecossistemas mais biodiversos do mundo.

No entanto, o Pnuma alerta que mesmo com 24,2% de suas áreas terrestres e 17,5% de suas áreas marinhas protegidas, muitos ecossistemas latino-americanos e caribenhos foram significativamente degradados. E as previsões para o futuro não são promissoras.

Dados do programa ambiental das Nações Unidas indicam que, entre 2015 e 2020, no mundo, se perderam aproximadamente 10 milhões de hectares de florestas por ano – e mais de dois terços dos ecossistemas oceânicos foram danificados, degradados ou modificados.

Essa degradação ameaça o bem-estar das pessoas, o potencial de adaptação dos países às mudanças climáticas e a viabilidade de um futuro sustentável, acrescenta o programa das Nações Unidas. Mas ainda é uma situação que pode ser revertida.

“Estima-se que, com a restauração efetiva de 15% das terras convertidas, 60% das extinções de espécies previstas poderiam ser evitadas. Além disso, proteger os ecossistemas intactos existentes e restaurar os degradados têm o potencial de contribuir para mais de um terço da mitigação total da mudança climática necessária até 2030”, informa o documento do Pnuma.

Consequentemente, restaurar ecossistemas é uma tarefa muito importante que deve ser realizada com cuidado e planejamento. Tanto que, em 2021, ministros do meio ambiente de diversos países latino-americanos adotaram um plano regional que contém dez ações para promover a restauração dos ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros até 2030.

O objetivo desse plano é reverter os efeitos atuais da degradação, bem como os que possam surgir no futuro, como indica o site da “Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas”.

O que é a restauração de ecossistemas e no que ela implica

O site da “Década da ONU” define a restauração como “uma ampla gama de atividades que ajudam a proteger os ecossistemas que estão intactos e a reparar os que já estão degradados”.

Todos os tipos de ecossistemas podem ser restaurados, incluindo florestas, terras agrícolas, cidades, áreas úmidas e oceanos, indica o site da “Década”.

A restauração pode ocorrer de várias maneiras, como com o plantio ativo ou a remoção de pressões para que a natureza possa se recuperar por si mesma. No entanto, retornar um ecossistema ao seu estado original nem sempre é possível ou desejável.

“Por exemplo, ainda precisamos de terras agrícolas e infraestrutura em espaços que antes eram florestas, e os ecossistemas, assim como as sociedades, precisam se adaptar a um clima em mudança”, continua o site da “Década da ONU”.

Na América Latina, já existem exemplos concretos, concluídos e em andamento, que mostram os benefícios desse trabalho e como ele contribui para o meio ambiente.

Coral no Parque Natural Tubbataha Reefs.

Coral no Parque Natural Tubbataha Reefs.

FOTO DE DAVID DOUBILET

Restaurar uma floresta nativa é possível: o caso do Cerro Catedral na Argentina

Um lugar imperdível para conhecer na Patagônia argentina é o emblemático Cerro Catedral, localizado na província de Rio Negro. Em janeiro de 1996, esta área natural foi afetada por incêndios que destruíram 870 hectares de sua emblemática floresta de ciprestes.

Foi então que Leonardo Gallo, argentino especializado em genética florestal do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) de Bariloche, e sua equipe, decidiram intervir para recuperar uma parte daquele ecossistema.

Os especialistas se dedicaram, especificamente, à recuperação de 10% do espaço. Gallo e seus colegas percorreram o território para coletar sementes de ciprestes sobreviventes de incêndios e gerar mudas.

O objetivo de escolher sementes de árvores locais era obter plantas com a mesma informação genética das árvores originais, para que os novos silvicultores se adaptassem rapidamente ao terreno, explica o especialista do Inta à National Geographic.

Foi assim que, entre 1999 e 2000 e após três anos de cultivo no viveiro, os profissionais transplantaram esses espécimes para o solo. No total, eles plantaram 15 mil ciprestes sob a proteção de outras “plantas enfermeiras”.

Neste caso, essas plantas facilitadoras eram arbustos típicos da região que, após três anos de incêndio, rebrotaram e tinham entre um e dois metros de altura. Por um lado, serviam para sombrear os ciprestes. Por outro lado, ajudavam a protegê-los do vento intenso provindo do oeste.

Com a decisão de colocar as mudas ao lado das “plantas enfermeiras”, os especialistas seguiram um padrão de localização natural dos arbustos. “Hoje, quando você vê a colina, não parece uma plantação, mas sim uma floresta natural de ciprestes.”

Essas árvores que foram plantadas no início do século para restaurar parte do Cerro Catedral atualmente se encontram acima do matagal de arbustos. Os resultados foram bem-sucedidos, como diz Gallo, porque a estratégia funcionou.

Em termos de números, no setor menos efetivo sobreviveram 60% das árvores. Enquanto no setor de solo mais fértil 92% das árvores prosperaram. “Ficamos maravilhados ao ver como as espécies nativas responderam”, lembra o argentino.

Ao evocar aquele trabalho de restauração iniciado em 1996, na sua cidade natal, e que continua com o crescimento permanente dos ciprestes, Gallo reconhece que esta foi uma boa ideia.

“O cenário era previsível: naturalmente, pouquíssimas plantas teriam nascido das sementes daquelas árvores sobreviventes, porque eram escassas. Se não tivéssemos feito nada, hoje quase não haveria árvores naquele setor”.

Da mesma forma, insiste o especialista em genética florestal, o maior impacto desse trabalho de restauração foi social: alunos de escolas locais participaram do plantio e puderam aprender sobre a restauração e a importância de cuidar desses espaços. Além disso, “havia uma ponte entre a sociedade urbana e o meio ambiente”.

Apesar do sucesso nesse trabalho, Gallo é realista. Ele reconhece que, a cada ano, é muito maior a biodiversidade perdida do que a restaurada. Por isso, o especialista acredita que é preciso multiplicar a informação e gerar uma grande mudança: “O melhor método para aumentar a área de floresta nativa é parar as escavadeiras e os incêndios”.

Uma tartaruga marinha nada em uma zona de maré no Parque Natural Tubbataha Reefs.

Uma tartaruga marinha nada em uma zona de maré no Parque Natural Tubbataha Reefs.

FOTO DE JENNIFER HAYES

Ações de restauração nas Ilhas Galápagos, uma mensagem de esperança no Equador

As Ilhas Galápagos estão localizadas no Oceano Pacífico e pertencem ao Equador. O arquipélago é formado por 19 ilhas de origem vulcânica que, junto com sua reserva marinha circundante, “são um museu e laboratório vivos da evolução, únicos no mundo”, como informa a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, por sua sigla em inglês).

Entre as muitas espécies que habitam essa paisagem incrível – a qual inspirou Charles Darwin para sua teoria da evolução natural – estão os corais, como afirma Jenifer Suarez, bióloga equatoriana, responsável pelo monitoramento dos ecossistemas marinhos do Parque Nacional de Galápagos e guarda-parque líder do projeto de restauração do ecossistema marinho das Ilhas Galápagos.

Apesar de sua importância, os ecossistemas de corais de Galápagos foram seriamente afetados durante os anos de 1982 e 1997 como consequência do El Niño (também conhecido como Oscilação do Sul, é um fenômeno natural caracterizado pela flutuação das temperaturas oceânicas na parte central e oriental do Pacífico equatorial).

Esses eventos naturais ocorridos no final do século causaram a perda de 16 dos 17 recifes de coral e muitas das comunidades de corais foram degradadas, segundo informa Suárez em conversa com National Geographic.

No entanto, nos últimos anos, a bióloga e os seus colegas começaram a detectar formas de recuperação dos corais e, consequentemente, se concentraram no desafio de contribuir com o processo para uma recuperação rápida.

Foi assim que, entre 2019 e 2020, o Parque Nacional de Galápagos, juntamente com voluntários e a Galápagos Conservancy (uma organização sem fins lucrativos dedicada à proteção e restauração das ilhas), começou a implementar um plano piloto na Bahia Academia, na Ilha Santa Cruz, em Galápagos, com o objetivo de restaurar um dos ecossistemas mais frágeis e importantes do local.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os corais desempenham um papel fundamental na absorção de emissões de carbono, protegem o litoral de tempestades e erosão e servem como meio de subsistência. Embora cubram apenas 0,2% do fundo do oceano, abrigam mais de um quarto de todas as espécies marinhas.

Por sua vez, continua a ONU, “eles são o ecossistema que abriga a maior biodiversidade, o que os torna um dos mais complexos e valiosos do planeta em termos biológicos”. Considerando esses dados e a incipiente recuperação, fizeram um viveiro no mar, na Bahia Academia, para “semear corais” no Parque Nacional de Galápagos.

O viveiro é composto, especificamente, por uma mesa com uma malha plástica submersa sobre a qual são colocadas bases de cimento e “camas” de cordas onde os corais são presos para crescer. Todos os dias, eles são limpos para evitar a intrusão das algas e, assim, se observa seu crescimento.

Depois de ficar um ano no viveiro, tempo razoável para que os corais crescessem, em 2022 os especialistas transplantaram 14 fragmentos de coral que colocaram em Punta Estrada (também em Santa Cruz). Apenas um deles se perdeu em decorrência de ondas intensas; os outros ainda estão em boas condições e são monitorados regularmente.

Já em 2023, espera-se poder plantar o restante dos corais no viveiro e fechar o ciclo daquele espaço e da restauração. “Tivemos resultados muito bons, aprendemos sobre coisas que precisam ser melhoradas, mas acreditamos que esse projeto pode ser replicado”, reflete Suarez.

A restauração é um processo de longo prazo, pois, dependendo da espécie, o coral pode crescer entre 3 e 7 centímetros por ano. Então, os resultados serão vistos em 5 ou 10 anos, explica a responsável pelo monitoramento dos ecossistemas.

Da mesma forma, já se pode observar resultados positivos da iniciativa, segundo Suarez. Assim, o grupo comandado por ela pretende gerar manuais de procedimentos para replicar em outros casos.

Para a especialista equatoriana, os corais são um exemplo de resiliência e este trabalho demonstra a importância da restauração: “É bastante curioso: colocamos o viveiro em uma parte onde só tinha areia. É incrível a mudança que existe, agora você encontra peixes de diversas espécies e tartarugas. Só em um pequeno espaço do viveiro já dá para ver a mudança”.

Somado a isso, destaca a importância de educar os cidadãos para contribuir com sua conservação. “Ninguém ama ou se preocupa com o que não conhece”, diz ela.

Vista de duas praias na Ilha Bartolome nas Ilhas Galápagos, no Equador.

Vista de duas praias na Ilha Bartolome nas Ilhas Galápagos, no Equador.

FOTO DE SHUTTERSTOCK

Quais são os custos e benefícios da restauração do ecossistema?

Com relação aos custos e benefícios econômicos da restauração, o Pnuma é firme em reforçar: “Até 2030, a restauração de 350 milhões de hectares de ecossistemas terrestres e aquáticos degradados poderia gerar 9 bilhões de dólares em serviços ecossistêmicos”.

Ter ecossistemas mais saudáveis ​​e uma biodiversidade mais rica traz maiores benefícios como solos mais férteis, maior disponibilidade de recursos (como madeira ou peixes), informa o documento sobre “Década sobre a Restauração”. Somado a isso, “também poderia remover da atmosfera entre 13 e 26 gigatoneladas de gases de efeito estufa”.

“Os benefícios econômicos dessas intervenções excedem o custo do investimento em dez vezes, enquanto o preço da inação é pelo menos três vezes maior que o da restauração do ecossistema”, conclui o Pnuma.

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Trajano Xavier

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