Mapeamento de interações entre abelhas e plantas pode ajudar a restaurar áreas degradadas
Na Floresta Nacional de Carajás, no Pará, uma área protegida rodeada por áreas degradadas, pesquisadores identificaram 154 interações entre plantas e abelhas
Identificar a utilização de certos recursos florais como o pólen pelas abelhas pode auxiliar tomadores de decisão a recuperar áreas degradadas da floresta amazônica, segundo um estudo publicado nesta quinta (20) na revista científica “Arthropod-Plant Interactions” por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV). A pesquisa faz parte de um campo de investigações sobre interações entre insetos e plantas. A equipe realizou análise de 51 espécies de abelhas e identificou 43 espécies de plantas que estes pequenos animais visitam. O total de interações entre plantas e abelhas mapeadas pelo estudo foi de 154.
O artigo é parte da dissertação de mestrado da engenheira florestal Luiza Romeiro. Ela realizou análise de 72 cargas polínicas – material formado pelos grãos de pólen presentes no corpo dos animais – e identificou 82 tipos de pólen em abelhas do acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém, e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Ao contrário do método convencional, que consiste em idas a campo, até a floresta, e observação dos objetos – no caso, as abelhas e as flores –, Romeiro optou por usar as coleções de insetos disponíveis para sua pesquisa. “É muito difícil fazer esse tipo de observação em florestas de alto dossel, com árvores muito altas”, explica. Para Tereza Giannini, orientadora de Romeiro, as coleções entomológicas – que reúnem exemplares de insetos – são um tesouro em termos de biodiversidade. “As coleções guardam informações inestimáveis sobre as espécies e seus habitats”, aponta.
Além da coleta de insetos, outro desafio das pesquisas com pólen é o de conseguir de fato categorizar esse tipo de material. Para enxergar e identificar os diferentes tipos de pólen das amostras, foi preciso colocá-las sob o microscópio. “O pólen é microscópico, mas é muito resistente a fatores externos e ao tempo”, diz a primeira autora do artigo. Algumas das amostras utilizadas por Romeiro foram coletadas há mais de uma década, mas suas estruturas se mantiveram intactas graças a uma capa protetora que reveste os grãos de pólen.
O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Carajás, no Pará, uma região de conservação na faixa leste do bioma amazônico, mas que é rodeada por áreas historicamente degradadas. “Um dos fatores a serem considerados na recuperação dessas áreas seria priorizar a reintrodução de espécies que fornecem recursos alimentares para as abelhas, porque isso vai atraí-las de volta ao local, naturalmente”, afirma Romeiro. A espécie de abelha que apresentou mais interações com as plantas da região, de acordo com os resultados obtidos, foi uma abelha coletora de óleo, a Centris denudans, e a planta de maior preferência entre as espécies analisadas foi a Byrsonima spicata. Esse tipo de abelha tem hábito solitário e recebe esse nome por coletar óleo nas flores, uma substância utilizada para alimentar suas crias.
As abelhas atuam no transporte de pólen de uma flor até outra, auxiliando no processo de formação de frutos e sementes e tendo papel fundamental na reprodução das plantas. Esse processo é chamado de polinização. Os grãos de pólen são os gametas masculinos das flores, ou seja, são equivalentes aos espermatozoides humanos. “Com a presença dos polinizadores, a recuperação da floresta pode ter mais sucesso e ser acelerada”, diz Giannini. “Apesar de as abelhas terem um papel fundamental na natureza, ainda há muitas lacunas de informação sobre esses insetos, especialmente na Amazônia, um bioma de rica diversidade”, completa a pesquisadora.