Peças plásticas de estações de tratamento de água chegam até praias do Paraná, mostra registro inédito
- By: Trajano Xavier
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Pesquisadores da USP e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) encontraram 749 peças plásticas usadas no tratamento de água e esgoto em 11 praias do litoral do Paraná. Segundo artigo publicado na revista científica Ocean and Coastal Research em 15 de maio, os itens estavam, inclusive, em áreas de proteção ambiental, como o Parque Estadual da Ilha do Mel e o Parque Nacional do Superagui. Este é o primeiro registro desse tipo de poluição plástica no litoral brasileiro.
As amostras de peças perfuradas de 16 milímetros usadas para o tratamento de águas residuais, chamadas de biomídias plásticas, foram coletadas entre julho e agosto de 2023 em praias nos municípios de Pontal do Paraná, Paranaguá e Guaraqueçaba. Os itens estavam na superfície da praia em zonas próximas à restinga.
O estudo foi motivado pela descoberta de 411 partículas plásticas por um morador em uma praia localizada em Pontal do Paraná. As coletas seguem para além do período de amostra do artigo. “Desde que começamos a observar as biomídias, já encontramos mais de 2 mil delas”, afirma Renata Hanae Nagai, pesquisadora do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e autora do artigo. Segundo ela, a distribuição espacial dessas partículas é significativa e sugere uma possível origem em estações de tratamento de águas residuais do Sistema Estuarino de Paranaguá – o qual compreende os municípios estudados – que utilizam a tecnologia MBBR (sigla de “reator biológico de leito móvel” em português).
Essa tecnologia é eficaz na redução do acúmulo de lodo e diminuição dos problemas de entupimento dos sistemas e é a técnica mais utilizada em estações de tratamento de águas residuais no mundo. “Estamos acompanhando uma área no litoral paranaense para determinar se a entrada dessas peças plásticas no meio ambiente foi um evento pontual, ou se elas chegam à costa de forma contínua”, avalia Nagai.
A decomposição das peças também pode contaminar o ambiente com microplásticos, que tendem a interagir com outros organismos marinhos, como ostras e mexilhões. Nagai ressalta que a contaminação plástica impacta diretamente a saúde do oceano. “O oceano nos presta serviços ecossistêmicos fundamentais. Nós retiramos alimento dos ambientes costeiros e marinhos, ele regula o clima e produz a maior parte do oxigênio que respiramos. A poluição por plástico, junto com os impactos da mudança climática, é hoje um dos maiores problemas que enfrentamos”, observa a autora.
Para Nagai, é fundamental que diferentes atores, como empresas de tratamento de águas residuais, agências ambientais e pesquisadores, trabalhem em conjunto para mitigar os impactos da poluição plástica nos ecossistemas costeiros e marinhos. A implementação de sistemas de alerta e prevenção de vazamentos ou perdas de biomídias plásticas é essencial, explica a pesquisadora. Além disso, é crucial desenvolver protocolos de monitoramento de estações mais rigorosos e buscar alternativas não plásticas para as biomídias usadas em estações com tecnologia MBBR.
*Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado