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Pássaros constroem abrigos com lixo marinho no litoral do Amapá, e avanço da poluição preocupa cientistas

Pássaros constroem abrigos com lixo marinho no litoral do Amapá, e avanço da poluição preocupa cientistas
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Grupo de pesquisadores encontrou ninhos de aves da espécie Japiim feitos com pedaços de plástico em praia de Calçoene, no Amapá. Descoberta preocupa: ‘poluição afeta a fauna marinha, a pesca local e o turismo’, diz pesquisadora.

Uma cena chamou a atenção de pesquisadores que estiveram na praia do Goiabal, no município de Calçoene, a 375 quilômetros de Macapá. É que pássaros que habitam essa região no extremo norte do litoral brasileiro estão usando lixo plástico que chega pela Oceano Atlântico para a construção de seus ninhos.

🔎Os pássaros da espécie Japiim se alimentam no próprio litoral e costumavam usar cipós e pequenos galhos para a construção dos ninhos. No entanto, pesquisadores que estudam o impacto da ação humana ao longo do litoral amazônico identificaram recentemente que esses abrigos passaram a conter lixo marinho na composição – incluindo restos de redes de pesca.

“O lixo na costa do Amapá é uma ameaça crescente, causada por diversas fontes, incluindo resíduos descartados inadequadamente e detritos de outras regiões, como plásticos, garrafas e redes de pesca abandonadas. Essa poluição afeta a fauna marinha, a pesca local e o turismo, exigindo ações de conscientização e políticas de gestão de resíduos”, alertou a pesquisadora Zenaide Miranda, da Universidade Estadual do Amapá (Ueap).

Os pesquisadores integram o projeto Observatório do Lixo Antropogênico Marinho (Olamar), que é financiado pelo CNPq e tem parceria com várias instituições: Museu Emílio Goeldi, ICMBio , Instituto de Pesquisa do Amapá (Iepa) e com as universidades federais e estaduais do Amapá (Unifap) e (Ueap), do Pará (UFPA), Maranhão (UFMA), e a Universidade de São Paulo (USP).

O projeto também busca compreender a dinâmica e os efeitos do lixo marinho, além de caracterizar e avaliar a pesca fantasma — termo que se refere a equipamentos de pesca abandonados, perdidos ou descartado nos oceanos e que continuam a capturar animais. A pesquisa também abrange os litorais do Pará e do Maranhão.

Para o levantamento no Amapá, o projeto selecionou 40 pontos de amostragens ao longo do litoral do estado, entre os municípios de Calçoene e Amapá, entre eles a praia do Goiabal onde foram documentados os “ninhos de plástico”. A região, que tem acúmulo de lixo marinho, é rota marítima e pesqueira.

“São dados que estão sendo gerados com relação ao conhecimento dos níveis de contaminação no nosso litoral, por embalagens de alimento, garrafas pet e itens de pesca, sem excluir a presença e a relação desses materiais com os animais costeiros, como peixes e aves”, descreveu Raqueline Monteiro, cientista do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa).

 

Aves constroem ninhos com lixo marinho e avanço de poluição preocupa cientistas no Amapá — Foto: Alan Furtado da Silva/Olamar/Divulgação

Aves constroem ninhos com lixo marinho e avanço de poluição preocupa cientistas no Amapá — Foto: Alan Furtado da Silva/Olamar/Divulgação

A pesquisadora Zenaide Miranda também citou preocupação com os altos índices de plásticos encontrados em aves e em peixes. “Existem dados de que quase 90% das aves marinhas já estudadas no mundo foram diagnosticadas com a presença de plástico no sistema digestivo. Além das aves, outros animais de ambiente marinho também são afetados por ficarem presos em plásticos ou até mesmo equipamentos de pesca que são descartados”, disse a pesquisadora.

A cientista disse que a costa amapaense foi escolhida devido aos poucos estudos voltados para a contaminação causada pelo lixo e que ainda existe uma lacuna em termos de subsídio a políticas públicas dos problemas causados pela poluição marinha na região.

Para Zenaide, o acúmulo de lixo marinho pode representar um risco para o ambiente e para a saúde humana também, podendo persistir no ambiente marinho por décadas. “O lixo causa danos diretos à fauna e à flora marinha, podem liberar substâncias tóxicas que afetam a água, o solo, os organismos e toda a cadeia alimentar relacionada a esses recursos naturais que servem muito para nossa alimentação”, informou.

Além desse estudo, a Universidade do Estado do Amapá também realiza um levantamento específico sobre poluição na Estação Ecológica de Maracá-Jipioca, na chamada “Ilha das Onças” – berçário dos maiores felinos da Amazônia. Em maio deste ano, uma ação da Ueap com o ICMBio retirou 2 mil pedaços de plástico da reserva.

Aves constroem ninhos com lixo marinho na Praia do Goiabal — Foto: Alan Furtado da Silva/Olamar/Divulgação

Aves constroem ninhos com lixo marinho na Praia do Goiabal — Foto: Alan Furtado da Silva/Olamar/Divulgação

Praia do Goiabal, no município de Calçoene, no litoral do Amapá — Foto: Rafael Aleixo/g1

Praia do Goiabal, no município de Calçoene, no litoral do Amapá — Foto: Rafael Aleixo/g1

Lixo coletado na na Estação Ecológica de Maracá-Jipioca, no Amapá, durante ação em maio deste ano — Foto: Ueap/Divulgação

Lixo coletado na na Estação Ecológica de Maracá-Jipioca, no Amapá, durante ação em maio deste ano — Foto: Ueap/Divulgação

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Trajano Xavier

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