Pesquisadores captam imagens de onça-parda com filhotes em SP

Uma onça-parda (Puma concolor) e dois filhotes foram registrados em vídeo no Legado das Águas – maior reserva privada de Mata Atlântica do país – localizada no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. O registro foi feito pelas câmeras do Onçafari – associação para estudo e conservação da vida selvagem, para monitoramento de fauna no Legado das Águas. O vídeo foi comemorado pelos pesquisadores, visto que a espécie está ameaçada de extinção na Mata Atlântica.
Pelo vídeo, os filhotes e a mãe aparentam boa saúde. A estimativa é de que os filhotes tenham cerca de um ano de idade. “Temos um registro de maio de 2024 onde aparecem dois filhotes que, na época, estimamos ter cerca de seis meses. Suspeitamos que sejam os mesmos, pois podem permanecer com a mãe por mais de um ano e meio”, explica Stephanie Simioni, bióloga do Onçafari.
O monitoramento desses animais é feito por meio dos registros das “armadilhas fotográficas”, como são chamados os equipamentos que funcionam por sensores infravermelhos e de movimento, que são acionados automaticamente quando os animais passam por eles, gerando vídeos curtos, inclusive para operação em modo noturno, permitindo registros sem que haja contato com o animal.
A parceria do Onçafari com o Legado das Águas teve início em 2020 e, até o momento, as onças-pardas foram responsáveis por mais de 1.100 mil vídeos. “A abundância de vídeos não significa que há uma população grande de onças-pardas, isso porque vários vídeos podem ser de uma mesma onça”, adverte a bióloga.
Monitorar e diferenciar onças-pardas (Puma concolor) é uma tarefa desafiadora. Isso porque, diferentemente das onças-pintadas (Panthera onca) – que são identificadas por suas rosetas, ou seja, as pintas –, os pesquisadores individualizam as pardas por marcas físicas, como cicatrizes e características do corpo. Até o momento, cinco onças-pardas foram identificadas e batizadas de acordo com as suas características marcantes, sendo quatro machos e uma fêmea.
Embora seja uma espécie que pode ser encontrada em todos os biomas brasileiros, a onça-parda é considerada “vulnerável” pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e convive com ameaças como caça esportiva, atropelamentos, perda e fragmentação de habitat, principalmente pelo desmatamento. O órgão estima que, em toda a Mata Atlântica no Brasil, não haja mais do que mil onças-pardas. “É sempre bom ver o nascimento e crescimento de filhotes, ainda mais de uma espécie que ocupa o topo da cadeia alimentar e por isso é tão importante para a saúde dos ecossistemas. Esse tipo de registro nos dá esperança e fôlego para trabalhar com a conservação da biodiversidade”, comemora Stephanie.
A bióloga reforça a importância do monitoramento de fauna para a conservação das espécies. “Com esses registros, associados a outros métodos de pesquisa científica e dados, conseguimos entender como esses animais estão ocupando esses remanescentes de Mata Atlântica, com isso, contribuir com a ampliação do conhecimento das espécies e do habitat, consequentemente, para a sua conservação. O Legado das Águas é um local estratégico, pois faz fronteira com outras importantes Unidades de Conservação no Estado de São Paulo, formando um grande corredor ecológico, e esses registros só reforçam o papel da Reserva na conservação dessas espécies”, reforça Stephanie.
De acordo com Daniela Gerdenits, gerente do Legado das Águas, o registro soma a outros na Reserva de espécies raras e ameaçadas de extinção. “Desde quando iniciamos as primeiras parcerias com pesquisadores e instituições para o monitoramento de fauna no Legado, temos importantes registros, como as antas albinas, borboletas raras, o cachorro-vinagre e muitos outros que nos deixam felizes e esperançosos, mas também reforçam a importância dessa área para a conservação. Essas parcerias têm sido essenciais para gerar dados que contribuem não só para as ações no território do Legado das Águas, mas em como podemos contribuir para esse grande contínuo de Mata Atlântica. Somente nos últimos quatro anos, desde o início da parceria com o Onçafari, os registros reafirmam o potencial da área para conservação do bioma”, diz a gerente.
A onça-parda
A onça-parda é o segundo maior felino do Brasil, que pode ser encontrado em diversos biomas brasileiros, além do Canadá até a região meridional da cordilheira do Andes. Porém, mesmo com a ampla distribuição, é ameaçada de extinção em algumas localidades. O animal pode medir até 150 cm (sem contar a cauda) e pesar até 72 kg. As populações de regiões tropicais costumam ser menores, pesando por volta de 50 kg. A coloração da pelagem varia do cinzento-claro até o marrom-avermelhado.
As onças-pardas também têm duas características bem interessantes: diferentemente dos outros grandes felinos, como a onça-pintada, elas não esturram ou rugem. Sua vocalização (som que produz para se comunicar) é similar a um miado. Além disso, suas patas traseiras são proporcionalmente as maiores entre os felinos, o que as fazem ser ágeis, possibilitando pulos mais altos e uma habilidade extrema para subir em árvores.

Uma informação importante a ser frisada é que esse animal tem medo da presença humana. “Não somos vistos como presas. A maioria dos animais que fazem parte da cadeia alimentar das onças-pardas têm olhos na lateral do crânio e utilizam as quatro patas para se locomover, ou seja, muito diferente de nós. Essas características, entre outros fatores, fazem com que elas tenham medo de nós. Ataques a humanos, sejam de onças-pardas ou pintadas, são extremamente raros. O animal precisa ser submetido a uma situação de muito estresse, quando se sente acuado”, esclarece Stephanie Simioni, bióloga do Onçafari.
Por Ciclocvivo
Foto: Divulgação: Onçafari | Legado das Águas