Estudo quantifica a abundância de palmeiras no mundo e pode gerar modelos mais precisos de previsão do tempo e serviços ambientais
O papel das palmeiras nos ecossistemas pode ser muito mais importante do que as estimativas até hoje puderam prever. Um levantamento em diferentes bases de dados, reunindo informações coletadas por 223 pesquisadores em diversos países, mostra que as medidas de biomassa das florestas podem ter uma variação de até 15% para mais ou para menos.
Isso acontece porque a maioria dos estudos desconsidera que as palmeiras possuem características fisiológicas diferentes daquelas das árvores. Por isso, modelos de previsão do tempo e de serviços ambientais, como estocagem de carbono, podem estar subestimados. O estudo, que teve apoio da Fapesp por meio do Programa BIOTA, foi publicado na Global Ecology and Biogeography.
“Existem equações que mostram que o crescimento em diâmetro de uma árvore é proporcional ao crescimento em altura. Com isso, sabe-se, por exemplo, a quantidade de carbono que ela está sequestrando da atmosfera medindo apenas o seu diâmetro. As palmeiras, porém, são plantas muito diferentes. Dois exemplares podem ter diferença de 10 metros de altura, mas o mesmo diâmetro. No entanto, a maioria dos estudos realizados até então usa a mesma relação entre altura e diâmetro usada para medir a biomassa das árvores”, diz Thaíse Emílio, pesquisadora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e coordenadora do estudo.
A pesquisadora liderou o estudo com Robert Muscarella, da Universidade de Upsalla, na Suécia. Segundo ela, a medição da biomassa de árvores e palmeiras usando o mesmo método pode estar negligenciando o sequestro de milhões de toneladas de carbono. Na região neotropical, que compreende a América do Sul, América Central e parte do México, por exemplo, algumas florestas podem ter até 60% de sua área cobertas por palmeiras.
O estudo cruzou dados coletados em 2.548 parcelas de floresta tropical (áreas delimitadas por grupos de pesquisa com pelo menos um hectare) em 834 localidades nas Américas, África, Ásia e Oceania, totalizando 1.191 hectares. Os dados correspondem ao número de árvores e palmeiras com mais de 10 centímetros de diâmetro. A partir desses números, são feitos cálculos da biomassa de uma área e a quantidade de água e carbono, por exemplo, que essas plantas consomem ou liberam na atmosfera.
Os pesquisadores recalcularam a biomassa das florestas aplicando medições específicas para as palmeiras, que levam em conta a altura além do diâmetro. Apesar dessas plantas corresponderem a apenas 3% do total da área estudada, o estudo mostra que os levantamentos que consideraram árvores e palmeiras apenas pelo diâmetro do tronco podem ter margens de erro de 15% para mais ou para menos.
“Isso pode fazer toda a diferença na modelagem dos dados. A inclusão dessa vertente é importante para aperfeiçoar modelos como os de ciclo de carbono [que preveem quanto desse elemento está sendo estocado e liberado pelas florestas] e de previsão do tempo, que considera a transpiração e a absorção de água pelas plantas”, diz a pesquisadora.
“Uma das contribuições do estudo é mostrar que as palmeiras podem ter uma importância de biomassa e de carbono que não é considerada na maior parte dos estudos de florestas tropicais e neotropicais. Com frequência, palmeiras adultas têm um diâmetro menor do que os 10 centímetros que servem de parâmetro na maioria dos estudos”, diz Carlos Alfredo Joly, professor do IB-Unicamp e outro coautor do estudo.
Joly é coordenador do programa BIOTA e lidera estudos de longo prazo que fazem o acompanhamento de dezenas de parcelas na Mata Atlântica. Algumas dessas áreas forneceram dados para o artigo publicado agora. Por conta do papel já conhecido das palmeiras no bioma, os levantamentos consideram plantas a partir dos cinco centímetros de diâmetro.
“Na Mata Atlântica, o palmito juçara, por exemplo, pode representar 25% dos indivíduos numa parcela do tamanho de um campo de futebol [100 metros quadrados]. No entanto, ele representa apenas 5% da biomassa. Mas isso faz muita diferença na modelagem dos cenários de estoque de carbono dessas florestas”, explica Joly.
Além disso, palmeiras são espécies-chave nos ecossistemas, pois mantêm tanto as populações de abelhas polinizadoras como as de aves e roedoras que se alimentam e dispersam suas sementes.
Thaíse Emílio prepara agora novos estudos para aperfeiçoar as metodologias de medição das palmeiras, que incluem não só o diâmetro como a altura dessas plantas. Um dos objetivos é gerar novos protocolos, a serem implementados por redes de pesquisa que realizam treinamentos de pesquisadores e estudos de longo prazo de florestas tropicais. Com isso, os modelos que usam dados de florestas tropicais se tornarão mais precisos.
O artigo The global abundance of tree palms pode ser lido aqui.
Fonte: CicloVivo