Para atender à demanda de um produto extraído do colágeno de sua pele, os jumentos continuam sendo abatidos e exportados mesmo com proibição da Justiça
No Nordeste brasileiro, os jumentos estão sendo abatidos para atender à demanda de um produto chamado ejiao, extraído do colágeno de sua pele. Entidades estão unidas para salvar a espécie da extinção. Especialistas chamam atenção para o declínio da população de jumentos no Brasil.
Ainda de acordo com dados oficiais do Mapa, apenas em abatedouros sob o Serviço de Inspeção Federal no estado da Bahia 78.964 jumentos foram abatidos entre fevereiro de 2021 e junho de 2022. Os números não abrangem as mortes que ocorrem durante o transporte nem aquelas causadas por doenças, que somam em torno de 20% adicionais aos dados de abate. Em 2018, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia previu que os jumentos seriam extintos em até quatro anos.
Busca pelo ejiao
O ejiao é uma espécie de gelatina de couro de jumento, que, segundo a medicina tradicional chinesa, possui propriedades medicinais que auxiliam na circulação sanguínea, no tratamento de anemia e no tratamento de doenças reprodutivas. Porém, não há comprovação científica, como alerta a bióloga e representante da The Donkey Sanctuary na América Latina, Patricia Tatemoto.
O comércio internacional do ejiao é lucrativo para um seleto grupo de empresários. Uma reportagem da BBC buscou estudos internacionais sobre o mercado de ejiao e concluiu que a pele de um único animal é vendida na China por valores entre US$ 2 mil e US$ 4 mil.
Mercado cruel
Trata-se de um setor sem regulamentação, que implica um modus operandi de captura ou compra, transporte irregular, confinamento e abate dos jumentos para a exportação de seu couro.
Outro ponto refere-se à biossegurança.
Reações em defesa dos jumentos
No último domingo (25), manifestações ocorreram em diversas capitais brasileiras em prol dos animais. Foi a quarta manifestação nacional convocada por instituições que buscam o cumprimento de uma liminar que proíbe a prática de abate de jumentos no País. A decisão favorável foi alcançada pela Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, mas está sendo descumprida pelos abatedouros, segundo a entidade.
A Frente Nacional de Defesa dos Jumentos é composta por instituições como Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Princípio Animal, União Defensora dos Animais (Bicho Feliz), Rede de Mobilização Pela Causa Animal — REMCA, entre outras. A Frente Nacional e a The Donkey Sanctuary conseguiram a realização de audiências públicas no Congresso Nacional em 2019 e na Assembleia Legislativa da Bahia em 2021.
Os jumentos são animais resilientes que ilustram as obras de artistas brasileiros como Luiz Gonzaga, Chico Buarque e Cândido Portinari, que já reconheceram estes animais em suas obras como pertencentes ao patrimônio cultural imaterial nacional.
Fonte: CicloVivo