2021 é o ano mais seco no Pantanal desde 1985, com área úmida de 1,6 milhão de hectares
Áreas úmidas do Pantanal passaram de 7,2 milhões de hectares em 1988 para 5,1 milhões de hectares em 2018, ano da última cheia
Dados obtidos pelo MapBiomas a partir da análise de imagens de satélite entre 1985 e 2021 confirmam que o Pantanal brasileiro vem apresentando padrões muito mais secos nos anos recentes.
O ano de 2021 representa o mais seco já observado, com área úmida equivalente a 1,6 milhões de hectares – 76% menor do que o início da série (6,7 milhões de hectares em 1985).
Como este é um bioma onde a superfície de água varia sazonalmente, os pesquisadores avaliaram a variação entre os anos com picos de cheia e de seca. Somando campos alagados e superfícies cobertas por água, a redução foi de 29% nos anos extremos dos picos de cheia (de 7,2 milhões de hectares em 1988 para 5,1 milhões de hectares em 2018) e de 66% nos anos extremos dos picos de seca (de 4,7 milhões de hectares em 1986 para 1,6 milhões de hectares em 2021).
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Nos anos mais recentes da série, nota-se que as cheias estão cada vez menores, tanto em termos de área quanto em duração. Em 2020 e 2021 a área alagada ficou abaixo da tendência já decrescente, com os meses mais alagados menos expressivos do que os meses mais secos dos outros anos da série.
Independente da sazonalidade, os dados mostram que todos os meses do ano apresentam tendência de diminuição da área alagada. Considerando o mapeamento mensal e os dados de área, tendência e frequência, no período de 1985 a 2021 o Pantanal está alagando menores áreas e também por menos tempo.
Nos últimos 37 anos, a superfície de água no Pantanal passou de 2,7 milhões de hectares em 1985 para 500 mil hectares em 2021. Em 1985, 4 milhões de hectares eram de campos alagados; em 2021, era 1,1 milhão de hectares. Nesse mesmo período, as formações campestres passaram de 1,6 milhão de hectares, em 1985, para 5,7 milhões de hectares, em 2021. As atividades agropecuárias, por sua vez, ocupavam 600 mil hectares em 1985 e 2,8 milhões de hectares em 2021. Em 1985, 6 milhões de hectares eram de floresta e savana; em 2021, eram 4,9 milhões de hectares.
“O Pantanal está sofrendo com múltiplos e simultâneos vetores de degradação locais, regionais, nacionais e globais”, explica Eduardo Reis Rosa, do MapBiomas. “Em nível local vemos um processo de conversão de áreas naturais em pastagens exóticas. A ocupação da área do planalto, sem respeito às nascentes e áreas de proteção permanente ao longo dos rios, está afetando a quantidade e qualidade da água e causando o assoreamento nos rios da planície. Há também uma alta frequência na incidência de incêndios, que dificulta a recuperação natural do bioma. Em nível regional, temos ainda o avanço de barragens, PCHs, drenos artificiais e estradas, que estão comprometendo o fluxo
das águas. Em nível nacional, vemos uma maior irregularidade do regime de chuvas gerado pelo desmatamento da Amazônia e o comprometimento de sua capacidade de bombear umidade para a atmosfera. Por fim, o Pantanal também sofre com o agravamento da crise climática”, detalha.
A conversão de campos naturais para pastagens plantadas com espécies exóticas é emblemático do processo de degradação do Pantanal. Bioma que historicamente foi ocupado por atividades pecuárias, o Pantanal tem visto o avanço de pastagens exóticas sobre as naturais à medida em que a retração das águas deixa maiores extensões de terra expostas. Porém esse processo tem deixado um legado de degradação de solo, mais acentuado na porção oriental do bioma:
A Bacia do Alto Paraguai é formada pela área de planície (o Pantanal) e as suas nascentes na área de planalto (compreende áreas do Cerrado e Amazônia). O retrato da bacia em 2021 mostra uma grande diferença na preservação entre a planície (onde 83% da área ainda é natural) e o planalto (apenas 43%). Vale ressaltar que todas as nascentes dos rios do Pantanal (+140 mil) estão localizadas no planalto, dentre as Áreas de Preservação Permanente de rios (30m) e nascentes (50m) da bacia, 43% da área são de uso antrópico em 2021 (656 mil ha), desse total 185 mil hectares de áreas depreservação foram convertidas para uso antrópico nos últimos 37 anos.
O MapBiomas também apurou números da Bacia do Alto Paraguai:
· Em 1985, 8,9 milhões de hectares eram florestas; em 2021, eram 5,9 milhões – perda de 3 milhões de hectares em 37 anos.
· Em 1985, 9 milhões de hectares eram savana; em 2021, eram 7,3 milhões – perda de 2,3 milhões de hectares em 37 anos.
· Em 1985, 8,5 milhões de hectares eram ocupados por atividades agropecuárias; em 2021, eram 14,7 milhões – um ganho de 6,2 milhões de hectares em 37 anos.
Ao todo, o bioma tinha um total de 12 milhões de hectares de áreas naturais em 2021, uma perda de 12% em 37 anos. No ano passado, 39,6% eram ocupados por formações campestres, 19,7% por formações florestais, 16,8% por pastagens, 12,9% por formação savânica, 7,1% por campos alagadose 3,5% por água.
Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia,
focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o
manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é
hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no
mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e
gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org