Subespécie da ave saíra-de-cabeça-azul foi descoberta em 1929, mas ainda não existia registro do ajustamento do pássaro, que ocorre na Chapada dos Veadeiros
Um pássaro que só tinha sido avistado no ano de 1929, em Goiás, teve um exemplar redescoberto na mata de uma fazenda localizada na Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás (GO), a 425 km de Goiânia. A ave saíra-de-cabeça-azul (Stilpnia cyanicollis albotobialis) estava se alimentando de frutos de uma árvore chamada de pixirica (Miconia munutiflora) quando foi avistada por uma equipe que realizava expedição na área próxima ao rio Miguel. O achado ocorreu no dia 16 de dezembro do ano passado, entretanto só foi divulgado esta semana, após publicação de artigo científico na revista “Bulletin of the British Ornithologists’ Club”. A descoberta foi feita pelo naturalista Estevão Freitas Santos, que pesquisa, há mais de oito anos, a interação entre a fauna e a flora brasileiras, e pelo biólogo Marcelo Kuhlmann, doutor pela Universidade de Brasília (UnB).
Ambos estavam na expedição para observar o ecossistema na época das chuvas, quando há muitas frutas na mata. O achado é de suma importância para a ornitologia brasileira.
“Eu já conhecia, por meio de fotos, a saíra, sabia que não havia outro registro a não ser o do José Blaser. Na hora, fiquei extasiado com a redescoberta. Coloquei o binóculo para ver melhor e foi um momento incrível. Eu já fui procurando sinal de internet para fazer a pesquisa para confirmar que se tratava desse pássaro raro”, contou Santos, afirmando que ainda adentrou mais a mata para ver se achava outro indivíduo, mas não conseguiu.
A subespécie é tão rara que somente foi catalogada em 1929 e não mais avistada, de forma oficial, até os pesquisadores a redescobrirem na Chapada dos Veadeiros. Existe um indivíduo conservado por taxidermia, que foi coletado pelo naturalista José Blaser e está na coleção do Museu de História Natural Field, em Chicago (EUA).
Até agora, a ave só foi encontrada na Chapada dos Veadeiros. “Tanto o registro original, feito pelo naturalista José Blaser, quanto o nosso”, destaca Estevão Santos, que realiza observações na mata da região do Cerrado para reunir dados para um livro que está preparando.
Santos destaca que há somente esse registro na literatura sobre a história natural dessa subespécie e não há estudos aprofundados de como o pássaro vive. O artigo científico só foi possível porque os pesquisadores conseguiram registrar a presença da ave em fotografias.
“No artigo, destaco que, através da análise que fizemos, a redescoberta da saíra estava no mesmo lugar que Blaser fez a descoberta, porque encontramos na área do rio São Miguel também detalhado no registro feito pelo naturalista”, destaca Santos, entusiasmado.
De acordo com Santos, a ave saíra-de-cabeça-azul (Stilpnia cyanicollis) tem sete subespécies, sendo duas encontradas no Brasil e cinco nos Andes. As que vivem no Brasil são a Stilpnia cyanicollis albotobialis, encontrada até agora apenas na Chapada dos Veadeiros, e a Stilpnia cyanicollis melanogaster, presente na Amazônia brasileira e na região Oeste de Goiás.
“As características do Stilpnia cyanicollis albotobialis incluem um pouco de azul na barriga, um pouco de branco nas tíbias e púrpura na garganta. Esses detalhes são muito sutis e difíceis de visualizar nas fotos, mas quando coloquei o binóculo, logo identifiquei e fiquei bem extasiado com a redescoberta. Já o Stilpnia cyanicollis melagonaster difere pelo colorido preto uniforme na barriga e ausência de púrpura na garganta”, explica Santos.
“Antes de avistar a saíra, tínhamos dado uma parada na beira do rio e vimos que a pixirica estava com frutas e havia chance de aves aparecerem. Durante a observação a saíra chegou. Na mesma árvore identificamos 24 espécies comendo dessa fruta, mas são espécies não raras”, contou Santos.
A equipe se prepara para voltar ao local no mês de dezembro, na mesma época que avistaram a ave para explorar uma área maior para tentar descobrir se existem outros indivíduos de saíra e novas descobertas. “Temos planos para voltar ao local, talvez na mesma época, para observar a interação da fauna e flora e quem sabe não encontrar novos indivíduos do saíra porque a área é extensa e pouco estudada”.
Fonte: UOL