Dois mil fósseis são encontrados em rastros de floresta pré-histórica na Austrália
Cerca de dois mil fósseis pré-históricos — incluindo aranhas, cigarras, moscas e até peixes — foram encontrados por paleontólogos em uma região onde existiu uma floresta tropical na Austrália. O ecossistema está descrito em um artigo científico publicado na última sexta-feira (7) na revista Science Advances.
A área investigada, chamada McGraths Flat, data de 15 milhões de anos atrás, no período Mioceno. Segundo o site Business Insider, em 2017, um fazendeiro local encontrou em suas terras diversas pedras com fósseis de folhas e de uma variedade de insetos. Ele relatou os achados a pesquisadores que estavam escavando fósseis jurássicos nas proximidades.
Três anos depois, milhares de fósseis foram encontrados no campo, incluindo centenas de espécies anteriormente desconhecidas pela ciência. Trata-se do primeiro registro que se tem até agora das florestas tropicais que cobriam a Austrália pré-histórica. Antes, apenas quatro fósseis de aranhas haviam sido encontrados em todo o país — só em McGraths Flat, os paleontólogos já desenterraram 13.
Ao jornal The New York Times, Matthew McCurry, principal autor do estudo, disse que os fósseis estão tão bem preservados que a equipe conseguiu observar relações entre as espécies. Por exemplo: havia parasitas ainda presos à cauda de um peixe e um verme nematóide que se infiltrou em um besouro Cerambycidae.
Michael Frese, coautor da pesquisa, usou um microscópio eletrônico e técnicas de microfotografia para estudar as criaturas. Graças à tecnologia, ele viu um aglomerado de pólen na cabeça de uma mosca-serra (Symphyta). “Podemos dizer qual flor foi visitada por esta mosca-serra em particular antes que ela caísse na água e encontrasse seu fim prematuro”, afirma o pesquisador, que acrescenta que isso não seria possível se a preservação não fosse tão boa.
Os fósseis se formaram na época em que um rio cortava a área de floresta, deixando como rastro um lago, conhecido como “billabong”, na Austrália. Quase sem oxigênio, o volume da água permitia que material vegetal e carcaças de animais se acumulassem. Com o escoamento de ferro vindo de montanhas de basalto próximas, o baixo pH da “piscina” fez com que o elemento precipitasse e envolvesse o material orgânico.
Como resultado, os fósseis ficaram preservados em rochas ricas em ferro do tipo goethita. Esse método de fossilização é bem incomum e as origens férreas fazem com que muitos dos seres fossilizados tenham até mesmo um brilho metálico.
Embora as espécies de McGraths Flat vivessem em uma floresta tropical, muito do pólen fossilizado do local vem de plantas do deserto. Isso indica que a área era cercada por regiões áridas, pois o vento carregava o pólen até o lago no meio da mata.
Os pesquisadores supõem que a floresta tropical estava começando a secar por conta de mudanças climáticas — e essa alteração, segundo Frese, pode nos ajudar a entender as mudanças atuais no clima. “A mudança climática do Mioceno e o evento de extinção do Mioceno são bons para estudar, eu acho, porque a flora e a fauna no Mioceno são bastante semelhantes às que temos agora”, afirmou ao Business Insider.
Para entender as mudanças no passado, os especialistas esperam encontrar outros sítios fósseis parecidos. Frese está analisando as rochas em McGraths Flat para determinar a formação do lago e como ele gerou as condições perfeitas para os fósseis. Isso pode trazer pistas para detectar formações semelhantes na Austrália.
Por Galileu