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Lisboa quer acabar com os pombos. Mas sem matá-los nem capturá-los. E com respeito

Lisboa quer acabar com os pombos. Mas sem matá-los nem capturá-los. E com respeito
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Desde há muito que os pombos são alvo de ódios e de amores. De um lado chamam-lhes “ratos com asas” e “praga urbana”, do outro recorda-se aos mais esquecidos o papel heroico que tiveram enquanto “correio” ao longo dos tempos, sobretudo como meio de transporte de mensagens cruciais entre batalhões na Primeira e na Segunda Guerra Mundial.

Estas aves, por muitos pontapeadas e por outros tantos alimentadas e acarinhadas, são extremamente inteligentes. E resilientes, já que sobreviver num meio citadino não é fácil, especialmente quando há quem não as veja com bons olhos.

A pensar nesta problemática, uma vez que há zonas das cidades onde os pombos urbanos se propagam velozmente, a Provedoria dos Animais de Lisboa propôs-se desenhar aquilo a que chama “o novo caminho para o desequilíbrio de concentração populacional do pombo feral na capital”.

Nesse sentido, durante os meses de agosto e setembro realizou sessões de trabalho com a Direção Municipal de Higiene Urbana, da Câmara Municipal de Lisboa, e com a direção da Casa dos Animais de Lisboa (antigo canil), para que fossem apresentadas e avaliadas novas medidas proporcionais e seletivas para a população de pombos na cidade.

“Ficou claro que a política de captura e abate de pombos não respeita o disposto na Diretiva das Aves, onde, naturalmente, a prevenção é sempre uma melhor opção que a eliminação”, explica Pedro Paiva, Provedor do Animal de Lisboa, em comunicado.

À PiT, o Provedor acrescenta que matar pombos não tem sido uma prática, mas sim a sua captura – sendo depois libertados noutros locais. Ainda assim, há que fazer melhor e é nesse âmbito que estão a ser direcionados os esforços iniciados no verão passado. “A captura é sempre um momento muito negativo para o animal. Não é a solução”, afirma Pedro Paiva à PiT.

Pombos merecem respeito

Tendo como base o respeito por estes animais, a iniciativa da Provedoria de Lisboa junta especialistas, o Instituto Superior de Agronomia e pelouros da autarquia num trabalho que envolverá também a participação da população, para que o resultado final seja de cidadania suportada por ciência. Ou seja, “Ciência Cidadã”.

“A sensibilização e a adoção para medidas, de curto e médio prazo, que contribuem para o correto enquadramento jurídico desta espécie, merecedora de respeito e também de proteção legal, estão agora em análise”, sublinha Pedro Paiva.

Assim, “com a urgência de se originarem processos de mudança para um novo paradigma mais alinhado com a Ciência, a Ética e o Direito no que respeita a estes animais”, a Provedoria Municipal dos Animais de Lisboa “iniciou um importante ciclo de trabalhos com responsáveis na área da investigação do Centro de Ecologia Aplicada Professora Baeta Neves, do Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa, na procura de uma solução para a regulação da população do pombo feral na cidade”.

A escolha desta sinergia teve como fator crucial o trabalho de cooperação para os estudos especializados, já realizados pelo Instituto Superior de Agronomia em dezembro de 2018, fruto de um protocolo com a autarquia, que visou a quantificação dos serviços de ecossistema da cidade de Lisboa. Os trabalhos produzidos por esta equipa técnico-científica poderão agora também ser um contributo para a investigação que se pretende realizar no âmbito da população do pombo feral na cidade, que foi georreferenciada.

E há conclusões curiosas: “o desequilíbrio de concentração populacional do pombo feral não ocorre em locais da cidade com diversidade biológica de aves e com coberto arbóreo promotor de nidificação de espécies competidoras (como corvídeos, gaio, gralha, pega azul, entre outras espécies), o que evidencia o potencial da competição com outras espécies que ocupem o mesmo nicho ecológico para promover o seu controlo natural”.

É por isso que, nesta fase, a Provedoria e o Centro de Ecologia Aplicada estão a reunir informação fundamental acerca dos hábitos e locais da população de pombos na cidade, contando precisamente com os seus habitantes, através da promoção da “Ciência Cidadã”. Por uma cidade de mãos dadas com os Animais – como diz o lema da Provedoria dos Animais de Lisboa.

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Trajano Xavier

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