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Para fugir do barulho da cidade, sabiá-laranjeira tem cantado cada vez mais cedo nas madrugadas

Para fugir do barulho da cidade, sabiá-laranjeira tem cantado cada vez mais cedo nas madrugadas
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A barulheira urbana de São Paulo tem mudado os hábitos de um dos símbolos do Brasil: o sabiá-laranjeira. Nos últimos anos, o pássaro tem começado a cantoria logo nas primeiras horas da madrugada para não competir com o ruído da cidade durante o dia.

O designer industrial Luiz Fernando Haddad já está acostumado a ouvir o sabiá cantando durante a madrugada, principalmente entre às 2h e 5h.

“Eu sempre me questionei por que eles cantam durante a madrugada. Eu gosto, na verdade. Traz contato com a natureza. A gente às vezes esquece morando na cidade”, disse.

O sabiá-laranjeira tem entre 20 cm e 25 cm de comprimento, pesando cerca de 70 gramas. Uma das principais características do animal é o peito alaranjado. Ele pode ser encontrado em praças, jardins e florestas.

A diretora do Museu Biológico do Instituto Butantan, Erika Hingst-Zaher, explica que o sabiá canta para encontrar uma parceira. Cantando durante a madrugada, com menos barulho, fica mais fácil para ser ouvido.

“É uma espécie de Tinder. Então, ele precisa ser ouvido acima do ruído que a gente produz na cidade”, explica.

“São Paulo é uma cidade enorme e que começa a funcionar muito cedo. E o sabiá, para não competir com o barulho da cidade acordando, começa a cantar cada vez mais cedo”, diz.

O sabiá-laranjeira, um dos símbolos do Brasil — Foto: Luciano Lima/Instituto Butantan

O sabiá-laranjeira, um dos símbolos do Brasil — Foto: Luciano Lima/Instituto Butantan

E os humanos?

Não é só o sabiá-laranjeira que se “incomoda” com a barulheira vinda do trânsito, das obras e da rotina paulistana. Os humanos também são impactados pela poluição sonora, e isso pode trazer prejuízos à saúde.

O médico Arthur Menino Castilho, que é presidente da Sociedade Brasileira de Otologia e especialista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, explica que a perda auditiva pode ser um dos efeitos da exposição prolongada à poluição sonora.

“Isso está acontecendo nos grandes centros, principalmente se você mora ou trabalha em uma região de intensa atividade sonora, como perto de uma rodovia ou de uma fábrica”, afirma.

 

Além de uma possível lesão auditiva, o médico também alerta para o impacto psíquico que o barulho excessivo pode causar. Entre os sintomas estão alteração do sono e irritabilidade.

Para tentar se proteger da barulheira, inclusive dentro de casa, uma alternativa está no uso de protetores de ouvido e, até mesmo, na instalação de janelas antirruído.

Por outro lado, segundo o médico, usar fones de ouvido com música alta para tentar sobrepor os ruídos da cidade não é uma boa ideia.

“Lesa tanto quanto o martelo pneumático do cara quebrando a calçada ou o asfalto. É que o som do trânsito é ruim, você não quer ficar exposto a isso. Mas você fica, às vezes, exposto a sons agradáveis. A pessoa troca o som chato pelo som legal, mas lesa igual”, explica.

Ainda segundo Castilho, é necessário que o poder público crie regulamentações para evitar que a poluição sonora atrapalhe o dia a dia das pessoas. Já para a bióloga Erika Hingst-Zaher, o barulho da cidade pode incomodar mais os humanos do que os sabiás.

“É realmente importante que a gente tenha áreas verdes para poder se refugiar, assim como os sabiás”, afirma Erika.

 

O sabiá-laranjeira tem cantado cada vez mais cedo nas madrugadas de SP — Foto: Luciano Lima/Instituto Butantan

O sabiá-laranjeira tem cantado cada vez mais cedo nas madrugadas de SP — Foto: Luciano Lima/Instituto Butantan

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Trajano Xavier

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